Herpes
simples.
As infecções
pelo vírus herpes simples do tipo 1 (HSV-1) são bastante comuns. Raramente
também podem ocorrer infecções pelo vírus herpes simples do tipo 2 (HSV-2). O
herpes simples é um vírus de DNA de baixa infecciosidade.
Após
penetrar na mucosa oral, viaja ao longo dos dendritos para alcançar o gânglio
trigêmeo, onde pode permanecer latente por anos. O vírus também foi isolado em
locais extraneurais como a gengiva.
A incidência
da infecção primária com HSV -1 aumenta depois dos seis meses de idade,
atingindo o pico entre as idades de dois e quatro anos. Novos casos continuam a
acontecer em crianças mais velhas e adolescentes. A infecção primária pelo vírus
herpes simples é igualmente denominada de gengivoestomatite herpética primária.
Quando um
bebê é infectado, a doença pode ser frequentemente diagnosticada erroneamente
como "nascimento de dentes". Entretanto, a infecção primária pode
permanecer assintomática. Com o maior aprimoramento da higiene, as infecções
primárias ocorrem cada vez mais na idade adulta.
Clinicamente,
a doença caracteriza-se por uma instalação súbita acompanhada de febre alta,
mal-estar, irritabilidade, dor de cabeça, boca dolorida, seguindo-se, após um
ou dois dias, a fase eruptiva.
A mucosa
afetada é vermelha e edemaciada, com numerosas vesículas coalescentes que se
rompem em 24 horas, deixando úlceras pequenas, dolorosas, rasas, arredondadas,
recobertas por uma pseudomembrana e contornadas por um halo eritematoso. As
úlceras podem coalescer, formando ulcerações maiores, irregulares. Novos
elementos continuam a aparecer durante os primeiros três a cinco dias. A cura
ocorre espontaneamente sem deixar cicatriz após uma semana. Durante esse
período, a dor pode tornar a alimentação difícil.
As lesões
podem ocorrer na gengiva, língua, palato, lábios, mucosa jugal, tonsilas e
faringe. Um aspecto constante da doença é a linfadenopatia regional dolorosa
bilateral. O diagnóstico geralmente se baseia nas características clínicas, mas
podem ser feitos esfregaços citológicos ou testes sorológicos com dosagem de
títulos de anticorpos.
O tratamento
da gengivoestomatite herpética primária, na maioria dos casos, é sintomático.
Nos casos mais graves, em crianças imunossuprimidas ou em neonatos, indica-se o
aciclovir sistêmico.
As infecções
herpéticas secundárias ou recorrentes são resultantes da reativação do vírus
herpes simples em indivíduos pré-infectados.
Os fatores
predisponentes que podem precipitar a reativação do vírus incluem doenças
febris, trauma, estresse emocional, radiação ultravioleta, imunossupressão,
infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e leucemia. Essas
infecções recorrentes geralmente ocorrem mais de uma vez por ano, a maioria na
borda do vermelhão labial, também podendo ocorrer no palato duro e na gengiva
inserida.
As lesões
bucais consistem de um pequeno número de vesículas discretas dispostas em
grupamentos. As vesículas rompem-se em aproximadamente 24 horas, deixando
pequenas úlceras com 1-3 mm de diâmetro, que curam espontaneamente entre cinco
a dez dias.
As lesões
labiais (herpes labial) são caracteristicamente recobertas por uma crosta
acastanhada. A recorrência geralmente acompanhada por dor local e mal-estar geral.
Neste caso,
o diagnóstico se baseia em critérios clínicos. Pode ser realizado e exame
histológico complementar das raspagens da úlcera gengival. O exame histológico
revela células epiteliais gigantes multinucleadas, corpos de inclusão
intracelulares e cromatina marginal.
O
diagnóstico diferencial deve ser realizado, pois inúmeras patologias podem se
manifestar na cavidade oral e assumir os mesmos aspectos clínicos das infecções
pelo herpes simples.
Herpes
zoster
A infecção
pelo vírus do herpes zoster ocorre pela sua reativação anos após a infecção
primária, chamada varicela ou catapora. Normalmente afeta os gânglios torácicos
e é chamada de herpes serpiginoso. Algumas vezes, afeta um ou dois ramos
homolaterais do gânglio trigêmeo, o que leva ao herpes zoster intra-oral.
Quando a
divisão maxilar do nervo trigêmeo é afetada, as lesões podem aparecer na
gengiva palatina, estritamente de for¬ma unilateral, como numerosas vesículas
ou ulcerações peque¬nas cercadas por uma área eritematosa. Vesículas e bolhas
com frequência se transformam rapidamente em úlcera na boca devido ao trauma.
Embora as lesões sejam muito dolorosas, a cura ocorre dentro de poucos dias.
O tratamento
das lesões bucais consiste em uma dieta leve ou de líquidos, re¬moção
não-traumática da placa e bochechos de clorexidina diluída. Uma imunodepressão
deve sempre ser posta sob suspeita.
Papilomavírus
humano
O
papilomavírus humano consiste em uma grande variedade de vírus de DNA que são
epiteliotrópicos. Eles podem causar o papiloma de células do epitélio oral
(comum), a verruga vulgar (menos comum), condiloma acuminado (raro) ou
hiperplasia epitelial focal (rara).
Clinicamente,
essas entidades se apresentam como crescimentos exofíticos, verrugas ou lesões
semelhantes à couve-flor. Podem acometer toda a mucosa bucal, inclusive a
gengiva.
As
transmissões dedo-oral ou genital-oral são normalmente consideradas a principal
causa de infecção.
Histologicamente,
de acordo com a forma clínica da doença, podem ser observadas variações com um
epitélio pavimentoso estratificado hiperplásico com mais ou menos acantose e
hiperparaqueratose. As lesões são benignas, mas alguns papilomavírus humanos de
alto risco também têm sido detectados em lesões malignas.
Deve-se ter
em mente que esses vírus são comumente detectados em carcinoma espinocelular
oral, mas sua incidência não é muito maior que em te¬cido oral normal.
Pacientes imunocomprometidos têm uma propensão para esses tipos de infecções
orais.
A excisão
cuidadosa de todas as lesões é o tratamento se escolha e deve prevenir
recorrência.
Vírus da
imunodeficiência humana (hiv)
A infecção
pelo HIV foi reconhecida como tal devido a uma epidemia no começo dos anos 80.
O vírus (tanto o HIV-1 quanto o HIV-2) é transmitido através de contato sexual
ou transfusão de sangue.
A latência
dos sintomas clínicos da doença associada ao HIV pode alcançar dez anos ou
mais. A grande variedade de sintomas pode ser associada à afinidade do vírus de
penetrar diferentes linhagens celulares.
O HIV leva à
redução de células-T auxiliares. A contagem de células CD4+ é até usada como
marcador. Por causa da menor imunidade medi¬ada por célula, ocorrem neoplasias
(sarcoma de Kaposi) e infecções oportunistas.
Os sintomas
periodontais frequentemente começam com um eritema gengival linear. Quando a
contagem de células T auxiliares é posteriormente reduzida, a gengivite
necrosante aparece e finalmente evolui para a periodontite necrosante, com
formação de sequestros de osso alveolar. Os sintomas periodontais
frequentemente precedem os outros sintomas clínicos da AIDS e sua incidência
tem alto valor indicativo para a contagem de células CD4+. Em virtude da
não-invasividade do exame periodontal, seu papel na avaliação clínica da doença
é de suma importância e não pode subestimado.
A infecção
pelo vírus do herpes e infecções por Candida, além de ulcerações orais
recorrentes (UOR) maiores, também são características proeminentes.
Os estudos
têm verificado que aproximadamente 40% dos pacientes com AIDS apresentam
Candidose no estágio inicial da doença, sendo um importante indicador de
comprometimento imunológico. As lesões podem aparecer de várias formas, sendo a
mais frequente a eritematosa, observada como pontos avermelhados, localizados
principalmente no palato, mucosa jugal e também na língua. Outras formas como a
pseudomembranosa e a queilite angular (comissurite) podem ser observadas, sendo
bastante comum o aparecimento de mais de uma forma de Candidose ao mesmo tempo.
Leucoplasias Pilosas
são lesões que aparecem nos bordos laterais da
língua em forma de placas brancas e rugosas e são assintomáticas. As lesões
estão associadas ao vírus Epstein-Barr, sendo o diagnóstico clínico e por
biópsia da lesão. Deve ser realizado o diagnóstico diferencial com outras
lesões brancas como o líquen plano, a candidose, a leucoplasia ou lesões
traumáticas.
O Papiloma
representa a lesão infectada pelo HPV, que se mostra exacerbada nos pacientes
imunodeprimidos. Clinicamente, os papilomas são lesões verrucosas podendo
apresentar-se nas formas papilares, sésseis ou pediculadas.
O Sarcoma de
Kaposi é a neoplasia mais comumente associada a pacientes com AIDS. É mais
comum no sexo masculino numa proporção de 20:1. Clinicamente, se apresentam
como lesões de coloração avermelhadas ou arroxeadas na pele, mucosas, gânglios e
órgãos internos. São lesões normalmente assintomáticas e devem ser
diagnosticadas por biópsia.
O tratamento
pode ser cirúrgico, radioterápico e pela injeção de vimblastina ou interferon
diretamente na lesão. Alguns casos podem necessitar de tratamento quimioterápico,
sendo empregado o esquema ABV (adrimicina, bleomicina e vincristina).
Os Linfomas
não-Hodgkin representam a segunda neoplasia em incidência nos pacientes com
AIDS e ocorrem principalmente nas gengivas. É comum os pacientes apresentarem
saúde bucal precária, com dentes em mau estado.
Muitas vezes
esta lesão pode ser confundida com um abscesso dento-alveolar ou mesmo com
doença periodontal. O diagnóstico é estabelecido por biópsia da lesão e o
tratamento é feito com poliquimioterapia (esquema ABV).
Nenhum comentário:
Postar um comentário